Expectativas do mercado e a realidade das empresas
No curto prazo, as expectativas do mercado ditam o movimento das ações. Ou seja, uma parte relevante das oscilações de uma ação reflete as expectativas do mercado em relação aos resultados futuros de uma empresa. Nesse sentido, os analistas de mercado procuram se debruçar sobre diversas variáveis macroeconômicas e microeconômicas no intuito de precificar um ativo. Eles tentam estimar o preço “justo” de uma ação. Por outro lado, temos a realidade cotidiana das empresas. Ela vai muito além dos números pois envolve pessoas e os mais variados eventos aleatórios. O nosso objetivo com esse texto é apresentar algumas reflexões sobre a diferença entre as expectativas do mercado e a realidade das empresas.
Boa leitura.
Expectativas do mercado e a realidade das empresas
Quanto vale uma empresa? Esta é a pergunta norteadora dos analistas de ações. Eles procuram estimar o preço “justo” de uma empresa com base em modelos de precificação de ativos. Logo, a partir das opiniões dos analistas temos o chamado “consenso” de mercado.
Entretanto, esse suposto “consenso” na realidade é uma medida-resumo estatística obtida a partir da opinião de alguns analistas que representam determinados bancos de investimentos e casas de análises. Logo, as expectativas do mercado, representam, na verdade, as expectativas desses analistas. Tão somente isso. Na minha opinião, é impossível o mercado chegar em um consenso. Isso se contrapõem à volatilidade inerente à bolsa de valores.
Além disso, eu creio que é difícil estimar o que seria o valor “justo” de uma empresa em um sentido mais amplo e não apenas no sentido contábil. Por exemplo, para os donos do Banco Itaú (ITUB3, ITUB4) certamente o banco possui um valor inestimável. Afinal, como precificar uma empresa que é extremamente lucrativa, que possui potencial para distribuir dividendos perpétuos e capaz de prover renda para diversas gerações? A matemática e a estatística possuem limitações.
Ao contrário das expectativas do mercado, a realidade cotidiana das empresas é impossível de ser quantificada. Existem muitos fatores aleatórios que interferem no dia a dia de uma empresa. Irei mencionar um exemplo ilustrativo que ocorreu recentemente no setor de frigoríficos.

Exemplo ilustrativo
No dia 16 de maio de 2025, tomei conhecimento de que há um surto de gripe aviária no Rio Grande do Sul. Pois bem, era impossível prever a ocorrência desse surto. Se fosse o contrário, então, as medidas sanitárias cabíveis teriam sido tomadas e os impactos seriam bastante restritos ou o próprio surto nem teria ocorrido. Agora, vejamos o impacto desse surto para as empresas do setor de frigoríficos.
Até onde eu tomei ciência, logo após a ampla divulgação desse surto foi imposto um embargo pela China e pela União Europeia em relação à carne de frango produzida no Brasil. Os acordos de exportação de carne são bem rígidos no que se refere às questões sanitárias. Nesse sentido, uma possível pergunta seria a seguinte: dado que o surto ocorreu apenas no sul, por qual motivo razoável um frigorífico do centro-oeste estaria submetido a este mesmo embargo? Veja, nesse caso, não se trata de razoabilidade, mas sim das regras do jogo. Melhor dizendo, as regras de exportação entre os países.
Assim, um frigorífico do centro-oeste observará suas exportações diminuírem, mesmo que ele não tenha tido influência direta no surgimento e/ou propagação do vírus. Por exemplo, a empresa continua sendo bem gerida, a dívida controlada e as suas plantas fabris com ótima performance. No entanto, é óbvio que as suas receitas futuras podem apresentar uma queda. É praticamente impossível sair ileso nesse tipo de situação. Porém, a empresa tem total clareza que esses solavancos acontecem. O risco faz parte do negócio.
Portanto, embora as expectativas do mercado possam ser revisadas para baixo, isso não significa que os sócios devem vender as suas ações. Quando o embargo acabar, provavelmente os analistas ficarão empolgados novamente e as expectativas do mercado poderão ser revisadas para cima.
Conclusão
Os sócios de uma companhia devem ter clareza que a realidade cotidiana das empresas é o que prevalece no longo prazo, embora as expectativas do mercado, em sua grande maioria de curto prazo, possam variar entre um pessimismo e um otimismo exagerados. O analista emite opiniões sobre os fatos. No entanto, as empresas vivenciam os fatos.
Bons investimentos.